***
Mar Português
***
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
***
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
***
Senhor, a noite veio e a vontade é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
***
Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto cinzas a ocultou:
A mão do vento pode ergue-la ainda.
***
Dá o sopro, a aragem - ou a desgraça ou ânsia-,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistamos a Distância -
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
***
Fernando Pessoa
Mar Português
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Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
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Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
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Senhor, a noite veio e a vontade é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
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Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto cinzas a ocultou:
A mão do vento pode ergue-la ainda.
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Dá o sopro, a aragem - ou a desgraça ou ânsia-,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistamos a Distância -
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
***
Fernando Pessoa
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