22/08/10

A * ARTE * ABSTRACTA...

Ao longo dos tempos têm-se visto obras em que pintores e escultores de sempre, um pouco por todo o lado, dão expressão à sua arte através de linhas, volumes ou cores que utilizam para constituir conjuntos ordenados que sejam capazes de agir por si só na sensibilidade e no pensamento.
No entanto, não consideravam os artistas a hipótese de separar este poder de uma evocação, mais ou menos estilizada, do mundo visível, com excepção dos artistas islâmicos, por motivos óbvios.
Foi a partir de 1910-1940 que, no Oriente, alguns pintores renunciaram à representação, sendo Kandinsky, aparentemente, o primeiro a definir uma corrente lírica e romântica da arte abstracta, projectada numa linguagem plástica do mundo interior do artista e da sua visão imaginária.
Pelo contrário, é na mais depurada construção geométrica que Malevitch e Mondrian estabelecem o ponto de encontro entre o seu sentido cósmico e a sua vontade racional e objectiva. Outros artistas foram contribuintes mais episódicos do nascimento da nova arte, como foi o caso dos franceses Delaunay - que viveram em Portugal durante a 1ª. Guerra Mundial -, Léger, Picabia, o russo Larionov ou o checo Kupka e muitos outros.
O português Amadeu de Sousa Cardoso, natural de Amarante, que nasceu em 1887 e faleceu em 1918, fez a sua formação artística em Paris e foi um pioneiro que realizou no Porto, em 1916, uma exposição abstracionista, que depois veio a ser exibida em Lisboa. Infelizmente, a sua obra apenas foi influente a partir de meados do século.
Nos anos 20 e 30 é a tendência geométrica, muitas vezes apelidada de "arte concreta" e que muitas vezes se viu ligada à pesquisa arquitectónica, que domina, representada pelo construtivismo de escultores como os russos Pevsner e Gabo ou a polaca Kataryna Kobro; pelo neoplasticismo de Mondrian e do grupo holandês De Stij; em certa medida pela Bauhaus alemã, onde lecionam Kandinsky, que havia enveredado por uma arte mais fria, o húngaro Moholy Nagy e outros. Em Portugal foi o pintor Fernando Lanhas considerado como o introdutor da abstracção nos princípios dos anos 40. (CONTINUA)

02/08/10

Traduzindo o Alcorão...

As línguas originais com que foi escrita a Bíblia cristã foram o Hebraico, por vezes com mistura do Aramaico, no que toca ao Antigo Testamento, e o Grego, salvo nos casos em que o original provinha do Aramaico, no que refere ao Novo Testamento.
No entanto, para a maioria dos Cristãos, durante a maior parte da sua história, fosse essa ou não a língua da Bíblia a sua própria língua, era qualquer coisa de diferente das línguas originais.
Para os Muçulmanos, a questão tornava-se bastante diferente, porque o Árabe não é apenas a língua original do Alcorão mas sim é a língua do Alcorão. A tradução das escrituras era, pois, um problema para os Muçulmanos de uma forma que não o era para os Cristãos. O que estava em causa não era saber se seria ou não permitido passar o sentido do Alcorão para outra língua, pois é evidente que isto se podia fazer, embora o resultado fosse considerado como imperfeito, naturalmente, ficando portanto sujeito a erro humano. O problema maior era o uso que pudessem ser dado a essa tradução.
Quando a tradução surgisse com o propósito de facilitar a compreensão por parte de pessoas cuja língua nativa não lhes permitisse entender o original Árabe, não haveria qualquer problema.
É este o motivo porque existe um vasto conjunto de traduções Persas do Alcorão, sendo as mais antigas datadas do século X ou XI.
Notam-se em algumas traduções algumas características curiosas, como ser o texto Árabe escrito em Naskhi, com caracteres soltos em negrita e por baixo de cada linha árabe, em caligrafia pequena típica dos Persas, está uma humilde, palavra a palavra, tradução persa. A hegeminia do Árabe original está, virtual e inequivocamente, exposta, e a ordem das palavras árabes sobrepõe-se aos padrões sintáticos normais da língua persa - os verbos aparecem no princípio dos versículos em vez de aparecerem no final.
O servilismo destas traduções tem muito paralelismo noutras culturas. A tradução gótica da Bíblia do século IV é penosamente literal, e as traduções Tibetanas das escrituras Budistas aderem tão rigorosamente aos textos originais que podem ser utilizados, à confiança, para os reconstituir.
Podem encontrar-se num formato em negrita mais carregado nas traduções que actualmente se publicam no Irão, mas há algumas traduções que apresentam o Árabe e o Persa em páginas opostas, mas a primazia do Árabe é marcante, pois aparece na página direita em absoluto contraste com a tradução persa, apresentada na página esquerda numa impressão bastante modesta.
Um, como observa o "ayatollah" Nasir Makarim Shirazi, autor da tradução aludida, "é a Palavra de Deus e o outro é meramente um ser criado". No entanto, esta tradução está muito longe de ser servil. A sintaxe persa mantém-se inabalável: os verbos deslocam-se para o final dos versículos, ao mesmo tempo que o tratamento do significado é notavelmente mais assertivo.
CONTINUA...