18/05/13

'...MAS AS CRIANÇAS, SENHOR...'

' - Olha... eu tenho aqui pão! Queres um bocadinho?'
' - Quero, sim... mas... tú não comes?'
' - Tu és mais pequenina, precisas mais, para cresceres!'
'- Sabes uma coisa? Quando eu era muito pequenina, ia com a minha mãe ao shoping e ela punha comida num saco e dava a umas pessoas que iam dar comida aos pobres... mas agora somos nós, em minha casa, quem tem de ir procurar os senhores que dão a comida... e muitas vezes não os encontramos, porque há muita gente com fome e  são poucos a dar comida!... Tenho medo...'
' - Eu também não tenho comida em casa, mas na minha escola como o almoço e um lanche. Quando sobeja, as senhoras lá da escola dão para levar para casa, e é assim que eu tenho este pão! '
 
Neste País onde muitos que se alimentam daquilo que encontram nos lixos daqueles que ainda podem dar-se ao luxo de deitar fora 'restos' de comida, sejam  particulares ou da restauração.
Já não há que ter vergonha de dizer que vai comer a 'Sopa do Barroso' ou do 'Sidónio'! Há necessidade de ampliar as acções beneficientes de refeitórios como o dos Anjos, que desde há muitos anos é um local de referência para os pobres de Lisboa!
Mas também há necessidade de que os grandes espaços comerciais, sejam eles alemães, franceses ou portugueses, deixem de inutilizar os produtos que estão em fim de validade, procurando que os pobres os não aproveitem, como infelizmente vai acontecendo!
É tempo de a Justiça deixar de aceitar queixas dessas superfícies, feitas contra um desgraçado rouba um paposseco de alguns cêntimos, apenas porque tem fome. E, para mais, com a agravante de se pedirem avultadas indemnizações, para um furto irrisório!
Considerando o facto de a Assembleia da República estar dotada com um dos mais 'ricos e luxuosos' restaurantes portugueses, com um cardápio digno de candidatura às celebradas estrelas Michelin, que premeiam a forma desabrida como alguns malbaratam num dia, em ostentação gastronómica, mais do que a maioria pode gastar numa vida,  para alimentar a família!
Ainda se os pobres Deputados recebessem o Salário Mínimo Nacional, que eles consideram suficiente para que 'os outros' sustentem as famílias, depois de deduzida a parte de leão que o Fisco reivindica para o Governo... que pouco falta para introduzir o imposto pelo ar que respiramos... cruzes canhoto!
 'Ainda quem é pecador,
sofra tormentos... enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dôr,
  porque padecem assim?'   
                        "Augusto Gil"
Não é de hoje que o Povo português se vê confrontado com austeridade, com fome, com dificuldades tremendas, mas sempre se considerou não ser um Povo que baixe os braços! Trocou a escola pela enxada com que cava a terra, pela serventia nas obras, pela aprendizagem nos mais diversos oficios que se lhe foram deparando, pela fábrica onde operava as máquinas, pelo escritório onde se dedicava ao trabalho da escrituração ou da facturação. Emigrou... e mudou o pensamento e o estilo de vida:
O MEU FILHO, QUANDO CRESCER, VAI TER TUDO O QUE NÃO TIVE! NÃO VAI TRABALHAR PARA AS OBRAS MAS VAI SER DOUTOR OU ENGENHEIRO!
Hoje vemos crianças que olham o horizonte, procurando vêr, na luz do sol que nasce, alguma coisa parecida com futuro, com esperança, com dignidade, com paz... mas a solidariedade apenas funciona entre aqueles que nada têm, pois vão repartindo o pouco que Deus lhes deu com aqueles que têm tanto como eles!
Num País em que o Governo se dá ao luxo de esquecer que aquilo que vai retirando do fraco pecúlio dos reformados, não atinge apenas esses reformados, mas os seus filhos e netos, que se 'servem' das parcas moedas que o Fisco deixa aos reformados para conseguirem pagar a casa, a água, a luz, a alimentação... e aí começa a aparecer o espectro da fome, porque o que recebem não chega.
Os que têm pensões do regime não contributivo, porque  trabalharam para eles próprios e não cuidaram de fazer os descontos para a reforma, ou os que vivem dos subsídios que o Governo malbarata, têm melhores condições de sobrevivência que aqueles que levaram uma vida a descontar para uma reforma... que lhe vai sendo escamoteada por quem não vê onde estão os verdadeiros destruidores da economia portuguesa! 
As crianças devem ser olhadas como aquilo que são: O FUTURO DO PAÍS!
O legado que lhe estamos a deixar será de dignidade? Torna-se pertinente pensar nisso.