30/01/08

MAIS UMA VEZ...A DEMOCRACIA


---- Ainda que não o pareça, a DEMOCRACIA tem os seus perigos. Na obra póstuma de Tocqueville, "SOUVENIRS", é ridicularizado o ponto de vista dos políticos de que todos os acontecimentos importantes ocorrem por "se mexerem os cordelinhos", e os grandes teóricos do seu tempo, que defendiam que tudo pode ser identificado até às "primeiras causas importantes". Falou de tendências mais do que "leis de ferro" e afirmou que, a não ser que seja no contexto dessas tendências, fosse qual fosse o momento, nada acontece por si próprio nem é independente das acções livres dos homens particulares. Embora orientado entre o determinismo e o voluntarismo, questionava uma tendência histórica inevitável na direcção da igualdade. Mas a forma que tomará depende das acções humanas imprevisíveis e o sucesso de tais acções depende de entendermos as tendências históricas e as circunstâncias sociológicas (mesmo que nenhum tipo de desentendimento possa substituír, mais do que guiar, a acção política). Tenta atingir um equilíbrio sensato entre a explicação sociológica e política, não dando importância demais ou de menos à influência de ideias abstractas em acontecimentos históricos, mesmo que alguns contestem sempre que os exemplos são escolhidos para se adequarem a um argumento, mais do que o argumento seja uma consequência da evidência.
---- A partir das fontes provinciais - nem tudo acontece em Paris, Londre, Berlim ou mesmo em Washington - foi capaz de formular teorias de importância duradoura; que a revolução actual apenas acelerou um processo de centralização há muito em curso; que o momento de perigo máximo para uma velha ordem é precisamente aquele em que tenta reformar-se a si própria; é que a revolução aconteceu numa época de melhoria económica e não numa altura de enorme dificuldade. Resumiu as duas últimas proposições ao afirmar que os homens sofrem desesperadamente em regimes de despotismo e pobreza e que só causam distúrbios quando há uma base de esperança e sinais de melhoria.
---- Comum a ambas as grandes obras daquele Autor, é a distinção entre LIBERDADE e DEMOCRACIA. Para entender o que se passou, tantom na Revolução Francesa como na Revolução Americana e as suas consequências, Tocqueville considerou útil utilizar a democracia no sentido clássico, simplesmente como o governo da maioria; o que implica em troca uma igualdade cada vez maior da condição social. Tratou a América como se fosse, em termos gerais, uma espécie de sociedade de classe média sem classes. As democracias podem ou não encorajar a liberdade de expressão e a escolha individual na acção política. Tocqueville julgava que ambas podiam levar a uma maior liberdade, por razões gerais referidas na obra "DA DEMOCRACIA NA AMÉRICA" e por causa de algumas instituições características da América; mas, por outro lado, muitas outras coisas na democracia ameaçavam únicamente a liberdade e o individualismo.
---- Mencionou os "perigos da tirania da maioria", a intolerância da opinião pública, a adoração da uniformidade e da mediocridade, a desconfiança face à excentricidade, à diversidade e à excelência. O seu desdém aristocrático surge quando inicia, do seguinte modo, um capítulo muito curto intitulado "O COMÉRCIO DA LITERATURA": "A democracia não apenas inspira um gosto pelas letras entre as classes comerciais, como introduz um espírito comercial na literatura". Mas Tocqueville tem razão, como iremos vêr próximamente, porque este trabalho CONTINUA.

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