10/10/07

QUEBRANDO TABÚS...

* Jamais alguém poderá afirmar que os tabús não são quebrados, que os espíritos são retrógrados e têm ainda mil e um cuidados para que a Santa Inquisição, a Comissão de Censura ou os formados em iliteracia pela "Universidade da Ignorância" não venham a julgar este texto fora do contexto das coisas que se devem divulgar.
* É a partir do cumprimento da primeira centúria do milénio passado que as grandes transformações têm o seu início. A "Antiguidade Tardia" é uma época de charneira, pois é nela que começa a definir-se um código de actos sexuais proibidos, acoplados a uma nova moral, que é anterior ao Cristianismo e sobre a qual o ideário católico exerce grande atracção. De uma bissexualidade activa desliza-se para uma "heterossexualidade de reprodução" e o casamento ir-seá lentamente constituíndo em instituíção fundamental da sociedade - consequentemente , nota-se uma certa tendência para a sua "estabilização".
* As ligações carnais dentro do mesmo sexo são crescentemente censuradas. Ora a religião cristã ascende nesta atmosfera mental. Recolhe os traços desta moral pagã em formação e desenvolve-os, retendo igualmente a herança do judaísmo (Verney, Arlès, Foucault).
* Nistzsche acreditava ter reconhecido no ressentimento anti-sexual a essência do Cristianismo. Bullough irá classificá-lo de religião sexualmente negativa. O que é certo, é que do Baixo Império aos nossos dias nunca o Cristianismo deixou de lançar a desconfiança sobre os prazeres carnais. O fim da sexualidade era a procriação. Todo o uso que tivesse claramente como objectivo a não reprodução era "condenado": as relações extra-conjugais, a polução, as práticas homossexuais, com animais, etc...etc.
* Sexo, pois, só no meio do casal e mesmo aí, se era reconhecido o papel da instituíção no combate à excitação do apetite sexual do homem, a moderação era inssistentemente recomendada (Flandrin). A longa duração deste modelo monogâmico e indissolúvel do casamento é o facto mais marcante da história da sexualidade ocidental (Arlès). Todavia, o seu triunfo não é síncrono da ascenção da religião cristã. Só surgirá entre os séculos IX e XII, contrastando com o modelo laico aristocrático - acto privado, celebrado entre famílias para satisfazer os jogos do poder e contrapoder e desfeito ao sabor da precaridade das alianças. * Numa primeira fase, a batalha da Igreja incide sobre a publicidade da cerimónia e o reconhecimento social da importância da intervenção eclesiástica. Só a partir do século XII a indissolubilidade do matrimónio começa a ser a preocupação dominante. Luta tenaz mas por fim vitoriosa. Nas camadas populares, a norma eclesiástica não teria encontrado grande resistência, pois, segundo Arlès, foi ao encontro de uma criação expontânea das colectividades rurais, condição prévia da estabilidade da própria comunidade.
* Já Georges Duby sustenta a hipótese de que o modelo da Igreja, ao impor-se logo a partir do século IX, servirá sobretudo os interesses dos senhores no enquadramento dos seus dependentes no seio de uma disciplina de costumes, repercutindo-se na consolidação das relação de produção.
* Um problema que continuará a motivar discussões, críticas e reparos... mas isso depois falamos.
Um trabalho baseado no artigo CLIO NA HORA DO SEX APPEAL, publicado na revista Lêr História nº. 4 - 1985

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