29/10/09

Emigrantes...saudade...sonho

Portugal é um país de emigração e imigração, razão porque se costuma afirmar que "ficou pelo mundo em pedaços repartido". Sabemos que a emigração no nosso País se iniciou cerca do ano de 1425, quando foi iniciada a colonização da ilha da Madeira, que havia sido descoberta e não era habitada.
Depois da aventura madeirense e tomando como exemplo a Família Real, que se havia mudado de armas e bagagens para as terras de Vera Cruz, os portugueses escolheram como destino o Brasil - o que ainda acontece, na actualidade - até que, com o fim da II Guerra Mundial, começou o êxodo das nossas gentes para países como a França, a Alemanha, o Luxemburgo, os Países Baixos, a Venezuela, a África do Sul, os Estados Unidos, o Canadá ou a Austrália.
É ponto assente que a emigração portuguesa foi orientada, de forma especial, para o Brasil, a partir de 1855, atingindo-se o número de 194.021 emigrantes entre os anos de 1905 e 1909. Havia denúncias de a emigração ser um flagelo social que se acentuara na segunda metade do século XIX, mas não há indicativos seguros de que o clamor se não devesse atribuír à intensificação da saída de braços necessários como mão-de-obra para a nossa agrícultura, no dizer dos empresários agrícolas.
Este problema foi por demais debatido após 1870, quando a expansão das áreas cultivadas e o replantio dos vinhedos, que haviam sido destruídos pela filoxera, exigiam um maior número de trabalhadores agrícolas.
Os nossos governantes sabiam que a emigração tinha uma raíz difícil de extirpar, que estava bem à vista: A MISÉRIA QUE GRASSAVA NA VIDA DOS CAMPOS!
Só que a falta de mão de obra rural estava a provocar a alta dos salários agrícolas e isso era considerado ruinoso para os proprietários. Fez-se então um inquérito parlamentar à emigração... e as conclusões foram de que não era a penúria e a falta de emprego a provocar a emigração, uma vez que no Minho se lutava contra a falta de braços , mas o Alentejo estava a receber gentes das Beiras nas épocas de maior faina agrícola, pelo que na origem da emigração estaria latente o desejo de... enriquecer!
Alexandre Herculano bem se insurgiu contra esta visão das coisas, escrevendo diversos trabalhos nesse sentido, onde sustentava que as causas eram realmente a miséria nos campos e a insuficiência dos salários, situação que, no seu entender, deveria ser corrigida associando os assalariados agrícolas à posse das terras.
A grande maioria dos emigrantes portugueses destinou-se ao Brasil, para onde os levava a tradição vinda do século XVII, a par da facilidade de uma língua comum... e do trabalho profícuo dos "engajadores" que recrutavam trabalhadores para as explorações agrícolas do Brasil.
Muitos trabalhadores, oriundos do Norte e das Beiras, foram vítimas desta propaganda dos agentes, que lhes propunham contratos de parceria agrícola em que o salário era constituído por metade do produto líquido do trabalho durante o primeiro ano, sendo que a viagem seria um adiantamento a deduzir desse salário, tal como acontecia com a alimentação, se fosse fornecida pelo proprietário.
Estes trabalhadores trabalhavam em grupos, nas fazendas do interior, e viviam em sanzalas, sobre orientação de antigos capatazes de escravos... pois apenas do ponto de vista jurídico os emigrantes eram distinguidos da escravatura. Os "pactos de parceria" que pareciam aos camponeses minhotos um caminho para a riqueza, não lhes deixavam, muitas das vezes, recursos para fazerem o regresso à Pátria.
O Brasil daqueles tempos era a "árvore das patacas"... mas também o "cemitério dos portugueses!
***CONTINUA***

14/10/09

EM BUSCA DE UM SONHO...

Portugal é um país em busca de sonhos... porque somos gente que procura ser feliz, ainda que o não pareça!
Quando a guerra no Ultramar pedia gente para o sacrifício, os Portugueses optaram por se sacrificar mas por algo que lhe fosse mais rentável sem pedir o sacrifício da própria vida... ainda que os caminhos da emigração fossem agrestes e, muitas das vezes, não se coibiam de pedir aos jovens, que iam "de salto" para as terras gaulesas, um preço alto pela dita de não ir para a guerra.
A sina estava traçada nas linhas da vida do Povo Português, muitas vezes me perguntando se não haveria aí uma "vingança" do Adamastor, das Ninfas do Tejo, dos Velhos do Restelo, que terão arranjado uma qualquer macumba capaz de, pelos tempos fora, obrigar os Portugueses a ter de viver fora da sua terra, do seu torrão Pátrio, vivendo num sortilégio em que o fado será a marca indelével da nossa saudade!
Somos um País de emigrantes... ontem para o Brasil... para a África... para a França... a Alemanha... a Venezuela... a África do Sul... a Austrália, mas o reverso da medalha está a acontecer e nós, ontem calcorriando as sete partidas do mundo em busca da felicidade, da concretização do sonho lusitano, também somos hoje país de acolhimento, mesmo que não tenhamos nada para oferecer, mas sempre capazes de fazer valer o velho aforismo de que o pobre dá mesmo o que não tem, pois partilhar é da sua índole!
Dirá alguém mais avisado: "ENTÃO A NOSSA FELICIDADE É MORRER DE SAUDADE? E SERÁ VERDADE QUE SE MORRE MESMO COM TAL SENTIMENTO?" Bem... o fado diz que não se morre de saudade, mas não acredito que seja cantado por alguém que alguma vez estivesse na situação de sentir verdadeiramente o que é a saudade! O emigrante, pela sua maneira de ser e estar na vida, é um animal saudoso, que apenas sonha com o momento em que voltará a ouvir as "Avé Marias" soarem no campanário da sua aldeia, poderá estar à lareira, nas noites de invernia, a sentir o doce calor vindo do tronco que arde em chamas brilhantes que crepitam, alegres, como se sentissem que ele estava saudoso daquele momento.
E então recorda o velho Prior, que o baptizou, o cachorro fiel, que é agora um animal no declinío da vida, mas antes fora o seu companheiro de brincadeiras, quando corriam pelos valados da terra natal.
Alguns amigos já partiram, levados pela idade, pela doença ou pela guerra, e outros foram crescendo, casaram, tiveram filhos... É o mundo que se renova, muitas vezes sem dar azo a que os sonhos se cumpram, porque o mundo pula e avança, no dizer do Poeta, mas a esperança é sempre renovada!
E é o sonho que comanda a vida, não podemos duvidar! Quando regressamos - se regressar-mos - fazemos a avaliação do que foi a nossa vida na diáspora e perguntamos: VALEU A PENA? Também o Poeta nos diz: "TUDO VALE A PENA..."