08/09/07

ATEISMO, RELIGIÃO, AGNOSTICISMO... O QUÊ?




O Cristianismo tem uma vasta reserva de recursos para moldar a vida e a morte. Tal como a maioria das religiões, é mais amplo e flexível do que um sistema filosófico, e lida não só com os conceitos abstractos, mas com histórias vividas, imagens apelativas, simbolos sonantes e rituais que dão sentido à vida. O seu apelo é dirigido não só ao coração e aos sentidos, como também à mente, e oferece uma gama de chamamentos e provocações para orientar e presidir às vidas dos indivíduos e das sociedades. Existem, contudo, limites para aquilo que pode ser considerado cristão, pois ao abrir algumas oportunidades para a vida e para o pensamento, outras acabam por ser excluídas.
Sabemos que o Cristianismo se constrói à volta de uma pessoa, Jesus Cristo e certamente que se esperará que vá descrever uma variedade de formas de como ele foi interpretado e o papel crucial que essas interpretações têm na definição dos limites do pensamento Cristão. A isso irei tentar dar respostas, mas não se pense que será fácil não cometer algumas imprecisões, porque para se compreender verdadeiramente o pensamento de Cristo, devemos deixar para trás tudo o que as diversas correntes vão fazendo chegar aos nossos cérebros, com ideias provindas de uma espécie de ateísmo científico, que só depois de dissecadas ao pormenor demonstram que nada mais pretendem que lançar a confusão sobre a profundidade doutrinária dos Evangelhos de Jesus Cristo, escritos pelos seus "biógrafos" mais conhecidos: Mateus, Marcos, Lucas e João.
O Cristianismo tem objectivos na apresentação dos signos, as histórias, os símbolos ou os rituais que servem de elementos constitutivos da religião, indiciando os primeiros sinais do seu desabrochar ao longo de 2.000 de história cristã. Emerge como uma religião originada na exploração da energia espiritual. Essa energia - congregada, focalizada e canalizada por Jesus Cristo - permitiu aos seus seguidores pensar, sentir e desejar de novas formas. Nos primeiros séculos de história Cristã, deu origem a uma vasta gama de diferentes grupos espirituais, ideias e práticas - a muitos "Cristianismos" diferentes. Estes constituem um espectro e esse espectro define a amplitude da subsuquente possibilidade Cristã. De um lado desse espectro encontramos formas de Cristianismo definidas pela reverência a um poder superior. Elas centram-se num Deus que transcende infinitamente o mundo e os seres humanos e que reina sobre eles. Este Cristianismo entende a vida virtuosa - a vida santa - como um abdicar dos pensamentos, escolhas e desejos próprios (pecaminosos), mas para se viver de acordo com a vida superior que Deus requer. No outro extremo do espectro, encontramos algo diferente: formas de Cristianismo que colocam menos ênfase no domínio de Deus sob os seres humanos e maior ênfase no divino que existe no humano.
Em vez de venerarem um Deus que se mantém acima da experiência humana, concentram-se na possibilidade do divino se materializar na existência humana. Como tal, dão importância não ao poder vindo de cima, mas ao poder inferior; não ao poder vindo de fora, mas ao poder vindo de dentro. As interpretações de Jesus diferem da mesma forma: para um Cristianismo do poder superior, ele é um ser transcendente que requer obediência; ao passo que para um Cristianismo do poder interior, ele é um ser espiritual que pode inspirar, espiritualizar e divinizar a vida humana.
O Deus que se mantém acima da experiência humana, é o mesmo "Deus desconhecido" que S. Paulo viu num altar de Atenas (Act. 27:23). Esta passagem de S. Paulo sugeriu a Huxley o emprego da palavra "Agnosticismo", como oposto ao "Gnosticismo", que era um método de especulação, vago e teosófico muito generalizado na primitiva Igreja Cristã. O Agnosticismo limita o nosso conhecimento às manifestações e transformações da matéria e da energia, rejeitando toso o conhecimento da existência espiritual. Aceita as conclusões da ciência e a experiência sensorial, mas recusa, como conjectura desprovida de fundamento, toda a asserção referente ao não visível. O Agnóstico não gosta de ser confundido com os Ateus ou com os adeptos do materialismo filosófico, até porque estas teorias recusam as atitudes puramente nescientes no que respeita à existência espiritual.
O não pretenderem misturar-se com os Ateus, porque estes são opositores a qualquer doutrina teológica dominante, tem uma razão de ser implícita no facto de o Agnóstico não rejeitar as doutrinas teológicas como norma, mas antes pretenderem ser "convencidos" de que determinada corrente religiosa é veículada por práticas doutrinais legadas de fontes credíveis. É aqui que o Cristianismo se agarra para fazer valar a sua implantação espiritual no seio dos Povos ao longo dos Séculos: - O Cristianismo nasce de um ser históricamente presente no meio dos homens, como foi Jesus Cristo, que nasceu, cresceu, viveu e morreu, sem qualquer espécie de dúvidas a subsistirem ao longo dos tempos. Se "Ressuscitou dos mortos, conforme as Escrituras"... aí já é uma situação diferente, pois para o Ateu não há Deus nem Cristo, não se justificando, por consequência, o Cristianismo; para o Agnóstico, não põe em causa Jesus Cristo, mas as dúvidas sobre a existência de Deus levam a que tenham uma certa moderação no reconhecimento de um Cristo para além da morte, pois aí estariam a reconhecer a Omnipotência de Deus, a Sua existência sem dúvidas possíveis... e isso vai contra alguns conceitos que defendem... mesmo aceitando as "Verdades Reveladas" como aquilo que são: VERDADES!
Falar do Cristianismo não é tarefa fácil, mas torna-se um desafio aliciante, especialmente quando se exige uma busca criteriosa que nos poderá levar até ao conhecimento de Deus de uma forma que nos irá colocar mais próximos d'Ele, essência e espírito deste trabalho.


(Continua)

1 comentário:

  1. É impossível proceder ao infinito na série dos seres que se geram sucessivamente. Deve-se admitir, por isso, que existe um ser necessário que tenha em si toda a razão de sua existência, e do qual procedam todos os outros seres. A este chamamos Deus.

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