- No filme de Bertolucci "O último Imperador", podemos aperceber a magnificência dos palácios e praças existentes na Cidade Perdida. A vida daquele que foi o último Grande Imperador da China, Puyi, pode ser também conhecida pelos visitantes do Museu do Palácio Imperial, o maior dos complexos reais que conseguiram sobreviver às guerras e devastações perpetradas nos últimos séculos. - A Cidade Perdida ocupa uma área de 72 hectares em pleno centro de Pequim, correspondente a um rectângulo de 760 metros, de Este para Oeste, por 960 metros, de Norte para Sul, rodeados por um muro com 10 metros de altura e um fosso de 52 metros de largura, numa extensão de 3.800 metros. Dispõe de quatro torres de vigia em cada canto e de quatro portas de entrada, igualmente dotadas de torres: a Porta do Meridiano (a Sul, no eixo central da cidade), a Porta da Vontade Divina (a Norte) e as portas Floridas de Este e de Oeste. Os antigos Imperadores acreditavam viver no centro do Universo e que a linha de meridiano passava pelo meio da Cidade Proibida.
- Ao longo de práticamente cinco séculos (491 anos), viveram na Cidade Proibida um total de 24 Imperadores - 14 da Dinastia Mong e 10 da Dinastia Qing -, com as suas cortes de eunucos, esposas e concubinas. Puyi, o Último Imperador, que subiu ao trono com apenas 2 anos de idade (em 1908), foi derrubado pela revolução republicana de 1911. Abdicou no ano seguinte, mas ficou autorizado a viver nos palácios da Cidade Proibida até 1924, onde chegou a mandar construir um campo de ténis (ainda hoje existente), na mais pura tradição britânica, que lhe era ministrada pelo seu perceptor inglês. O recinto só foi aberto ao público em 1949.
- A construção da Cidade Proibida iniciou-se ao quarto ano do reinado do Imperador Yongle, o terceiro da Dinastia Ming, completando-se 14 anos depois, em 1420. De acordo com algumas estimativas, envolveu cerca de um milhão de operários, dos quais 100 mil artesãos especializados. A madeira necessária para a construção da grande maioria dos palácios e pavilhões, foi transportada do Sul do país, sobretudo, das províncias de Sichuan, Hunan e Guizhou. As pedras vieram do Distrito de Fangshan, não muito longe de Pequim.
- O amarelo é a côr predominante na Cidade Proibida e era quase exclusivamente usada pelos Imperadores. Para os seus antepassados, os cinco elementos do universo eram o ouro, a madeira, a água, o fogo e a terra, a principal, à qual atribuiam a côr amarela. Apenas a biblioteca real tinha uma cobertura negra, cor atribuída à água, como forma de proteger o edifécio dos riscos de incêndio. Muitos dos edifícios foram reconstruídos diversas vezes, pelo que, a maioria dos actualmente existentes, data do século XVIII.
- Quase totalmente construída em madeira, a Cidade Proibida vivia no pavor dos incêndios, geralmente, provocados por descuidos com lampiões, fogos de artifício, raior (os primeiros pára-raios só foram instalados em 1953) ou premeditados por eunucos e oficiais que enriqueciam à conta das obras de reconstrução. A título de prevenção foram colocados centenas de largos vasos de ferro (18 dos quais recobertos a ouro) nos diversos pátios usados para armazenar água em caso de incêndio. No Inverno, acendiam-se fogueiras para impedir a água de congelar.
- No eixo central da Cidade Proibida encontram-se três grandes pavilhões - o Pavilhão da Harmonia Suprema, também conhecido pelo Pavilhão do Trono, o Pavilhão da Harmonia Central, reservado ao descanso ou ensaios de discursos do Imperador, e o Pavilhão da Harmonia Preservada, vocacionado para banquetes e exames -, conhecidos pela Corte Exterior, onde o Imperador recebia as autoridades provinciais e conduzia os destinos do país. O Imperador, as suas mulheres e concubinas viviam na Corte Interior, nos palácios da Pureza Celestial, Tranquilidade Terrestre e da União Celestial e Territorial. Seis palácios a Este e outros seis a Oeste, completavam a disposição dos edifícios, que alojavam 70 mil eunucos e cerca de três mil concubinas. As pessoas comuns estavam proibidas de entrar na cidade. No topo Norte da cidade, figurava o jardim imperial, com 12 metros quadrados e construído na mais pura tradição chinesa e um excelente local para descansar depois de uma longa viagem.
- Ao todo, existem 800 edifícios, com 9.999 quartos e meio, no conjunto de palácios da Cidade Proibida, e este facto insólito deve-se à exclusividade do número 10.000 ser atribuído ao Imperador, a título de desejo de longevidade. De igual modo, nenhum edifício de Pequim podia exceder a altura do Pavilhão da Harmonia Suprema - a maior estrutura chinesa de madeira ainda de pé. O Imperador considerava-se a si próprio como o filho do Paraíso, nascido para governar o país e, logo, ocupando a posição mais elevada. Esta é também a razão porque não existe qualquer árvore na maior praça da Cidade Proibida - frente ao Pavilhão da Harmonia Suprema, com uma área de 10 mil metros quadrados -, além do receio de um atentado a partir de uma emboscada nas árvores. Para mais, uma árvore numa praça representava a palavra "problema", e o Imperador era supersticioso ao ponto de acreditar que poderia trazer problemas sem fim ao seu reinado. Apesar de fortemente guardado e de governar no poder mais absoluto, o Imperador vivia obcecado com a ideia de ser assassinado e trocava de quarto práticamente todas as noites. Só os eunucos mais próximos sabiam onde dormia no final de cada dia.
- Os pavilhões reservados aos aposentos privados do Imperador Qianlong e da Imperatriz Regente Cixi, são hoje utilizados para expor os tesouros e jóias da família real. Os objectos expostos constituem, apenas, uma ínfima parte do espólio outrora existente no palácio. Estima-se que a maior parte tenha sido desviada pelos japoneses, nos anos de ocupação, e para Taiwan, em 1949, pelos adeptos do Kuomintang, nas vésperas da tomada da China pelos comunistas.