De criança, ainda bem pequenino, habituei os meus ouvidos a ouvir as sirenes dos Bombeiros da minha cidade natal. Quando os carros saíam do Quartel para irem prestar o socorro, as sinetas a tilintar, as sirenes a lançar estridentes sons que pareciam dizer 'Vamos a caminho! Aguentem firmes que já estamos a chegar!', com os pneus a chiar nas curvas que tinham de fazer a caminho da catástrofe, como sentia orgulho naqueles Homens, que faziam jus à sua divisa "VIDA POR VIDA". Era nesses momentos que diziam, ufano, para quem me queria ouvir:
'Quando crescer quero ser Bombeiro'!
Penso ser o Bombeiro a figura que mais admiro, por tudo quanto representa o seu trabalho na insana batalha do combate aos incêndios que, seja por incúria das pessoas seja por meios naturais ou acidentais, vão delapidando o pulmão deste País, já tão martirizado com a crise económica e de valores humanos, mas que tem agora de sofrer os efeitos da sanha criminosa de alguns que apenas esperam obter vinganças através do incêndio, ou então têm como distração o olhar o céu coberto de nuvens de fumo, enquanto as matas vão ardendo... ardendo, para gáudio de alguns madeireiros sem escrúpulos ou agentes imobiliários em busca de terrenos baratos para erguerem mais uns tantos mamarrachos, não importa a que preço.
É com tristeza que vejo Portugal reduzido a cinzas. Na aproximação dos tempos Pascais há sempre um dia especial de penitência, a Quarta Feira de Cinzas simboliza o despojamento do homem de tudo quanto seja pecado, pois as cinzas são um sinal de que o mal foi vencido, ficando apenas as suas cinzas. Acontece que as cinzas com que Portugal está coberto não são de redenção mas de destruição, porque são causa de dor, de tragédia, de lágrimas, de luto, porque os incêndios vão ceifando vidas umas atrás das outras.
Haverá quem diga que não tem nada a ver com o assunto, que paga os seus impostos e deverá ser o Estado a zelar pelas pessoas e bens, providenciando a limpeza das matas... e até há uma certa razão nisso, pois grande parte das matas nacionais, que deveriam ter cuidados garantidos, não é limpa e até chega a acontecer a Guarda Republicana deter pessoas que vão buscar mato para fazer a cama do gado. Em vez de incentivar a limpeza, interessa é a multa, porque está a delapidar bens do Estado.
E depois ficam admirados quando o fogo torna órfã uma criança como a que vemos feliz ao colo da sua Mãe... porque esta, a Bombeira Ana Rita Pereira, dos Bombeiros de Alcabideche, pereceu no incêndio de Tondela!
Hoje continua a minha admiração por estes 'Soldados da Paz', porque a sua doação à causa do próximo é por demais notória!
Eles são dignos de ser lembrados, não só quando nos deixaram, chamados para descansar no Paraíso a que fizeram jus, mas também quando as forças lhes começam a fenecer e chega o tempo de repousar das baforadas de fumo, do esbraseado das chamas, dos caminhos ignotos que houveram de vencer para que as chamas sejam eliminadas, do suor a escorrer-lhes do rosto enfarruscado pelas cinzas, da sede que lhes queima as entranhas, mas que não os deixa desistir, porque é preciso vencer, hoje e sempre !
Os Bombeiros de Portugal merecem uma sentida homenagem de gratidão por tudo o que são, por tudo o que fazem, por tudo o que valem!