Ainda não se extinguiu o sentimento de tristeza pela partida da Zézinha Nogueira Pinto e logo surge mais um dado que leva a recordar o porquê de esta grande Mulher ser tão homenageada pelos que a viram actuar nas suas tarefas do quotidiano político e não só, tal como pelos que não se dispensavam de lêr os seus trabalhos nas colunas do Diário de Notícias. O último é, na realidade, a sua despedida da terra dos vivos, por estava já cumprida a missão para que o Senhor a havia destinado.
Depois de se apresentar e nos apresentar aqueles que a precederam na constituição familiar, como os avós, os pais e até a tia/madrinha, pois de todos eles aprendeu, "desde cedo, o dever de não ignorar o que via, ouvia e lia".
"No primeiro ano da Faculdade, furei uma greve associativa. Fi-lo mais por rebeldia contra uma ordem imposta arbitráriamente (mesmo que alternativa) que por qualquer outra coisa. Foi por isso que conheci o Jaime e mudámos as nossas vidas, ficando sempre juntos. Fizémos desde então uma família, com os nossos filhos - o Eduardo, a Catarina, a Teresinha - e com os filhos deles. Há quase quarenta anos. Procurei sempre viver de acordo com os princípios que tinham a vêr com os valores ditos tradicionais - Deus e a Pátria - mas também com a Justiça e com a solidariedade em que sempre acreditei e acredito. Tenho tentado deles dar testemunho na vida política e no serviço público. Sem transigências, sem abdicações, sem meter no bolso ideias e convicções. Convicções que partem de uma fé profunda no amor de Cristo, que sempre nos diz - como repetiu João Paulo II - "Não tenhais medo". Graças a Deus nunca tive medo. Nem das fugas, nem dos exílios , nem da perseguição, nem da incerteza. Nem da vida nem da morte."...
"Como no salmo, o Senhor foi sempre o meu pastor e por isso nada me faltou - mesmo quando faltava tudo."... "Gostei de trabalhar no serviço público... Combatendo ideias e políticas que considerei erradas ou nocivas para o bem comum, sempre respeitei, como pessoas, os seus opositores por comvicção, os meus adversários. A política activa, partidária, também foi importante para mim. Vivi-a com racionalidade, mas também com emoção e até paixão."...
Depois de tecer algumas considerações sobre o se percurso político e a colaboração nos órgãos de comunicação social, continua, já em despedida:
..."Nas fraquezas e limites da condição humana, tentei travar esse bom combate de que fala o apóstolo Paulo. E guardei a Fé. Tem sido bom viver estes tempos felizes e difíceis, porque uma vida boa não é uma boa vida. Estou agora num combate mais pessoal, contra um inimigo subtil, silencioso, traiçoeiro. Neste combate conto com a ciência dos homens e com a graça de Deus, Pai de nós todos, para não ter medo. E também com a família e com os amigos. Esperando o pior, mas confiando no melhor. Seja qual for o desfecho, como o Senhor é meu pastor, nada me faltará."
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É uma premonição de morte anunciada, porque a lucidez da Maria José jamais se perdeu, até ao último suspiro. Esta crónica foi a última vontade manifestada ao seu DN.
O Jaime Nogueira Pinto até no falecimento da Esposa de tantos anos deve sentir orgulho, porque uma Mulher com a dimensão humana da Maria José Nogueira Pinto é imortal!
Que Deus a tenha no lugar dos justos, porque a Zézinha, na realidade, combateu o bom combate e guardou a Fé. É digna da Eternidade que almejou conquistar.